Não se sabe exatamente os caminhos que levaram o engenheiro, professor e ex-prefeito de São Paulo, José Carlos de Figueiredo Ferraz, até aquela estação, naquele dia e momento.
Foi pelas mãos da equipe de segurança do Metrô que deu entrada a seguir no Hospital Municipal da Rua Vergueiro, bairro da Liberdade, onde veio a falecer às 12h50m daquele mesmo dia, em conseqüência de um enfarte.
Ao redor das 9 horas daquele dia, chegara aos escritórios da Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projetos, na Vila Mariana, conduzindo um fusca areia que costumava utilizar nos fins de semana, quando dispensava o motorista. Por volta das 11 horas, saiu rumo ao Metrô Vila Mariana, deixando o carro na vaga de sempre.
No rastro de tristeza que se seguiu ao seu desaparecimento, por bastante tempo ali permaneceu aquele fusca, pontuando o vazio imenso deixado por sua ausência naquela empresa que fundara 53 anos antes.
Inúmeras vezes, o trajeto de sua casa, próxima ao Parque do Ibirapuera, até a empresa, na Rua Conde de Irajá (seu endereço desde 1982), era realizado a pé. No outro carro, um confortável Galaxie, iam zelosamente conduzidos por seu motorista, sua pasta, às vezes o paletó, a gravata e, infalivelmente, ... os sapatos.
Jamais se veria o professor Ferraz inadequadamente trajado em qualquer de seus compromissos. Mas, nesses anos de caminhadas diárias, quantas vezes não foi surpreendido entrando em sua casa ou na empresa numa inusitada combinação de termo e tênis!
Nas ruas, era com igual informalidade que atendia aos cumprimentos e desfrutava do prazer de conversar com as pessoas que o reconheciam
Ao ser acudido por populares e funcionários da Estação Brigadeiro, as compras que trazia falavam de uma passagem pela rua Augusta e pela Livraria Cultura. Seu amigo, sócio e presidente da Figueiredo Ferraz Consultoria, João Del Nero, acha que pode ter ido da Vila Mariana ao centro da cidade de Metrô e retornado de lá a pé até a avenida Paulista, para fazer a caminhada do dia, chegando à esquina da rua Augusta e dali caminhando ainda até a Estação Brigadeiro.
Seja como for, quantas de suas obras terá ele visto ou não pela última vez, naquele trajeto de alguns quarteirões? Os edifícios Eluma e Casper Líbero, o Banco Real, os belos pilares do Museu de Arte de São Paulo (MASP) com seu famoso vão livre - concebido na prancheta da arquiteta Lina Bo Bardi, transformado em realidade física pela competência da equipe do escritório F. Ferraz.
Que sonhos para São Paulo não poderia ter relembrado nesta caminhada? Sonhos como seu plano de construção de uma via expressa subterrânea, entre a superfície da avenida Paulista e a atual linha do Metrô, percorrendo toda a sua extensão.
E que memórias de outros sábados distantes, em que esquadrinhava a pé as obras do primeiro trecho em construção do Metrô (Jabaquara - Liberdade)?
(condensação livre de um texto de Silvana Assunção)
(texto1.doc) RPG - 26/06/1997 (rev. 0)